Vi minhas penas começarem a crescer.
Vi como a vida é frágil e a natureza poderosa.
Vi como o mundo é pequeno, lá de cima.
E como o infinito é grande.
Vi rio, lagoas, represas, mares e cachoeiras.
Vi morros, montanhas, serras, picos e cordilheiras.
Vi cidades crescerem e matas desaparecerem.
Vi pastos, plantações, queimadas e mineradoras.
Vi nuvens crescerem e se dissiparem.
Vi brisas e rajadas.
Vi raios e ouvi trovoadas.
Vi chuvas e tempestades.
Vi minha sombra sobre a nuvem.
Vi que ela é contornada por um arco-íris.
Vi o azul de um céu de inverno.
E a poluição abaixo da inversão.
Vi aves de rapina, condores e urubus-rei.
Vi andorinhas copulando em pleno voo.
Nunca mais vi uma harpia, nem um lobo-guará.
Todos eles me viram.
Vi a Mantiqueira, os Andes, os Alpes e a Canastra.
Vi o Pacífico, o Atlântico, o Mediterrâneo e o Índico.
Vi o Vale Sagrado e o do Paraopeba.
Vi todos os lados da Moeda.
Vi (mais de perto do que devia) cercas, postes, fios, árvores e telhados.
Vi helicópteros, balões, ultra-leves e planadores.
Acho que eles também me viram.
Não vi nada dentro das nuvens.
Vi a consagração de amigos e a resignação de outros.
Vi a resiliência de uns e a desistência de outros.
Vi os acertos de uns e os equívocos de outros.
Vi a paixão de todos.
Vi o avanço tecnológico.
Vi que a nossa mentalidade pouco evoluiu.
Vi o rendimento de nossas asas aumentarem.
Vi a segurança delas se esforçando para melhorar.
Vi a morte de perto, mais de uma vez.
Vi reservas abertos e outros que quase abriram.
Vi asas quebradas e outras fechadas.
Vi o chão rapidamente se afastando e igualmente se aproximando.
Vi o Pepê junto à minha asa.
Vi também o Calais e o Paulinho.
Vi amigos morrerem e seus filhos nascerem.
Vi o choro dos que compartilharam.
Vi que as causas dos acidentes continuam as mesmas.
Vi que nós mesmos somos os maiores responsáveis por eles.
Vi imprudência, imperícia e negligência.
Também vi a sorte sorrir.
Vi o romantismo dos novatos.
E a malícia dos veteranos.
Vi o arrojo dos jovens.
E a cautela dos mais experientes.
Vi isso tudo lá de cima.
Onde vejo o que verdadeiramente sou:
Um visionário.
Lucas Machado, piloto.
segunda-feira, 5 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Amigo Enio Wilson, vá com Deus e voe alto nesta térmica, esteja ela onde estiver.
O 36º campeonato Brasileiro de asa-delta em Brasília terminou com uma enorme perda para a comunidade do voo-livre.
No último dia de prova ocorreu um acidente com o querido piloto carioca, Ênio Wilson.
Este vídeo, feito por um colega, é uma homenagem ao amigo Ênio, que deixará saudades e várias lições de vida, regadas de amor, serenidade, preocupação com segurança e carinho.
Ênio, vá com Deus e voe alto nesta térmica, esteja ela onde estiver.
Para a família, saibam que o Ênio foi uma pessoa daquelas que ninguém tinha o que falar. Um exemplo, uma referência e um parceirão. Que Deus conforte o coração de vocês.
Com carinho, dos beijo dos Vils Brothers.
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