quinta-feira, 28 de agosto de 2008
Sobre regulagens de asas (e casulos)!
Este assunto raramente alguém gosta de escrever, pois sabe dos riscos decorrentes de uma regulagem mal feita. Mas prefiro escrever o conceito básico no intuito de evitar que a falta de conhecimento possa resultar em regulagens mal feitas.
Como deixar a asa mais macia e "redonda" nas térmicas?
Objetivo: Fazer com que a asa "encaixe" facilmente na térmica e não fique caindo em faca para dentro das termais, reduzindo os movimentos de correção que o piloto precisa fazer (high siding).
Asas de ponta redonda (Ex.: Wills Wing e Moyes) possuem regulagem do copinho na ponta do Leading-Edge. Estes copinhos são responsáveis por deixar a tala flexível de fibra com a ponta mais pro alto ou mais pra baixo. Se a ponta estiver mais alta (como as pontas de asa de urubus) a asa ficará mais encaixada nas termais e mais macia, porém perderá um pouco de performance em alta velocidade. Se a ponta estiver mais baixa, a asa ficará caindo em faca nas térmicas. Uma ponta muito alta pode fazer com que a asa fique querendo sair das térmicas (cuspida da térmica) e fique até difícil de entrar na térmica lateralmente.
Deixar as talas que estão mais próximas da quilha (as 4 ou 5 maiores talas da asa) com pouca tensão deixará o comando da asa mais fácil e leve. O recomendado é que ao encaixar e tensioná-la, a pressão seja capaz de provocar um levantamento na curvatura da tala no bordo de ataque de uns 5 milímetros.
Outra coisa que influencia muito no comando da asa é a altura do casulo em relação à asa. Se você colocar seu casulo muito alto, o centro de gravidade ficará muito próximo da asa e você terá que fazer muita força pra comandar a asa. O ideal é tentar o mais baixo possível sem que comprometa seu movimento de comando. Isso influencia tanto que 2 cm mais baixo você achará que está voando outra asa (mais macia, claro). Tente regular para que na picada seu peito/barriga praticamente fique raspando no speedbar.
Como melhorar a performance nas tiradas (em alta velocidade)?
Objetivo: Fazer com que a asa tenha uma razão de planeio (L/D) melhor em alta velocidade e que consiga penetrar bem em situações de vento contra.
Na maioria das asas modernas, quando a marcha da asa é cassada, os recuperadores maiores (próximos da quilha) automaticamente são rebaixados e os (menores) são os que passam a atuar em alta velocidade. Quanto mais baixos os recuperadores de ponta, mais insegura e perigosa a asa ficará, sujeita a uma capotagem. Se a 70 Km/h sua asa possui muita pressão de barra, você pode experimentar retirar 1 volta do seu recuperador de mergulho de ponta e fazer um vôo de teste. Nunca reduza mais de uma volta entre um vôo e outro. Tente deixar sua asa regulada de forma que entre 70 e 75km/h (de marcha cassada) ela tenha um pouco de pressão de barra. Nunca deixe pressão de barra negativa!
O peso do piloto também influencia na performance e L/D da asa. Leia a especificação de peso que o fabricante informa para sua asa. Geralmente eles colocam a faixa (peso mínimo hook-in e máximo). Se deseja mais performance, divida a faixa de peso que o fabricante recomenda em 3 blocos e faça com que "seu peso+casulo+lastro" fique no terceiro bloco, mais próximo do limite máximo de peso aceito para a asa. Quanto mais pesado (sem exceder o limite máximo), mais a asa renderá nas tiradas (Alan, não esquecerei da covardia de Brasilia 2008 jamais)!
Sua posição em vôo e regulagem do casulo podem influenciar. Nas tiradas, tente manter o casulo alinhado com o horizonte ou um pouquinho com a cabeça pra baixo. Braços juntos ao corpo e poucos movimentos de correção, exceto os de velocidade p/ tentar voar na velocidade desejada em relação à massa de ar que está passando (acelerar nas descententes e reduzir velocidade nas ascendentes).
Em alta velocidade minha vela fica fazendo barulho e panejando nas pontas. Como tirar isso?
Objetivo: Elimitar os panejamentos que ocorrem de um os ambos os lados, pricipalmente nos 2 últimos gomos da ponta da asa.
Asas de ponta redonda (Ex.: Wills Wing e Moyes) possuem uma regulagem na alavanca que tensiona a tala flexível de fibra e também uma regulagem de tensão do bordo (esticador da vela que a prende no leading-edge).
Tensionar um pouco a vela pode reduzir este efeito. Se for mexer, solte o pino que trava a vela no leading-edge e marque com uma caneta a posição atual. Mexa de forma a tensionar apenas 3 milímetros e faça um test-fly. Faça sempre igual dos 2 lados.
Quanto à regulagem que existe no copinho de alumínio que existe no final da alavanca que tensiona a tala de fibra, não é muito intuitivo encontrar esta regulagem. Existe um parafuso que prende esta alavanca na vela. Solte o parafuso e remova a alavanca de dentro da vela com cuidado, pois existe uma pecinha concêntrica e arruelas que podem cair no chão. Você perceberá que esta pecinha não é simétrica e pode ser encaixada de 2 formas. Na Wills Wing, o que existe na verdade são 3 furos e você pode escolher qual dos furos será usado. Cada um deles dará mais ou menos tensão na tala de fibra. Isto evita que você precise serrar a tala de fibra (ou colocar uma maior) como era feito antigamente. Faça testes (sempre fazendo igual dos 2 lados) e veja qual posição reduziu mais o panejamento da vela em alta velocidade.
Como faço para minha asa ser macia nas térmicas, ter performance e ser segura?
Lamento informar, mas quase todas as regulagens possuem correlação entre si.
Mais performance => menos segurança
Mais macia => pior rendimento
Defina seu estilo de vôo e regule a asa de forma que te atenda da melhor forma, ou regule a asa conforme seu objetivo no vôo. Em vôos de distância e de longa duração, a maioria dos pilotos preferem asa macia do que performance. Em competições e voando na bombação, aceita-se uma asa mais dura, mas andando bem em alta velocidade.
Fica aqui a dica de como nossas Wills Wing T2 estão reguladas:
Copinho da tala de fibra: 1 ponto a mais na regulagem, colocando a ponta mais alta, ou seja, mais macia do que a regulgem de fábrica que geralmente vem no zero. Priorizamos o vôo de XC.
Recuperadores de alta velocidade (menores): relativamente baixos, ao ponto de manter pressão de barra a 75 km/h.
Recuperadores de baixa velocidade (maiores): acompanhando a relação existente entre os recuperadores de alta velocidade, conforme o que o manual informa. Medir também com a marcha toda cassada (vide dica abaixo sobre o manual da T2).
Furo do CG na quilha que o hang-loop prende: isso é muito pessoal e varia um pouco de ano e modelo. Mais pra frente a asa fica mais fácil de comandar na térmica.
Peso do piloto: no "2/3" da faixa de peso recomendada pelo fabricante e usando lastro natural (cerveja, claro!)
Dica para regulagem da Wills Wing T2:
No manual da T2 (página 44) existe o padrão de fábrica para os recuperadores de dentro e os de fora. Você pode medir com uma cordinha entre as talas de cada lado e ver onde esta linha passa na quilha. Colocar um cavalete de cada lado da asa, levantando-a apenas pelo leading-edge (nas pontas, enconstando apenas no leading-edge) e com a asa toda cassada. A quilha deve sair do chão sozinha.
No manual, a medida padrão dos recuperadores de fora a linha deve passar 2 cm (na T2-144) ou 1 cm (na T2 154) abaixo do topo do tubo da quilha e usando a tala #3 (a tala de fibra é a #1) como referência pra cordinha.
Se rebaixar um pouco os recuperadores de ponta, tente acompanhar a relação dos recuperadores de dentro (de marcha cassada).
Bons vôos e fiquem a vontade para comentar, complementar e corrigir qualquer informação citada.
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7 comentários:
Erick, SHOW! É desse tipo de informações que precisamos. Muito obrigado pelo trabalho de pesquisa e estudo, enfim, PARABÉNS pela matéria!
Muito bom e útil esse texto. Acho legal isso de passar o conhecimento pra frente!
Bons vôos!
ótima informação valeuu bons voos
ótima informação valeuuu bons voos
Vcs recomendariam alguém que efetuasse essas regulagens no rio de janeiro. Mesmo assim excelente informação parabéns
Alexandre, acho que a gente se encontrou em Japeri e conseguimos mexer um pouco na sua asa, certo?
Qualquer coisa me ligue e te ajudo.
Muito obrigado pelas dicas! Conhecimento não compartilhado é como um farol voltado p dentro. Parabéns!
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