Piloto: Geraldo Nobre (piloto de asa, Rio de Janeiro)
Geraldo Nobre: De São Conrado até Belmiro Braga!
Meus Caros Companheiros Alados,
Valeu!!!
Obrigado por tantos elogios, sonhos e dores de cotovelo enviadas.
É gratificante receber tantos incentivos e ver que estou incentivando a todos a voarem cada vez mais e melhor.
Valeu, Nader, Otávio, Glauco, Milton, Valença, Zé Over, Erick, Thiago Salame, Fabiano Ribeiro, Raphael, João Machado, Luisinho e tantos outros que tem o Vôo Livre na veia e que sempre sonham em estar nestes vôos.
Valeu pela companhia de vocês no Vôo Livre e pela amizade embutida nas mensagens.
Agora vamos ao que todo mundo quer saber, o vôo de ontem.
Posso dizer de ante-mão que foi um dos vôos mais complicados de minha vida, principalmente na metade do caminho depois que subi a Serra das Araras.
Ele começou no dia anterior quando, indo a rampa de São Conrado e vendo o Nordestão entrar, limpando o tempo que estava embassado a vários dias, tomei a decisão de não voar e descansar para o dia seguinte quando fatalmente a condição estaria mais redonda e deveria permitir um vôo de XC.
Com Nordestão, se vai ao Cristo, se ganha a Gávea facilmente mas, essencialmente é um vôo onde se briga para descer e não para subir.
E se queria partir para o Cross não era o dia certo e não valia a pena me desgastar.
A decisão foi correta.
5a feira - SEM LEI - amanheceu próximo do perfeito, o teto estava um pouco baixo mas o azul e as formações prometiam.
Parti às 9:00h para São Conrado e a primeira dificuldade do dia apareceu: um baita engarrafamento e mais de 40 minutos da Barra para S.Conrado.
Todo mundo indo para o trabalho e me atrapalhando ir voar já era o suficiente para instigar o nervosismo pelo vôo.
Chego na praia e vejo a turma toda nos agitos de subir.
Todo mundo percebeu que o dia era bom e chutamos o balde do trabalho como um bando de aves que parte para o Sul.
Para melhorar, reunião na AVLRJ e rampa fechada para os duplos.
Que perfeição, 20 asas top de linha alinhadas para partirmos.
10:40h - Saquarema abre os trabalhos, decola, engata, vai para o rotor e estampa no céu.
É o corre corre geral.
- `Vambora` que a farofa começou.
A maldade de fazer uma distância para fora de S.Conrado e ganhar alguns pontinhos a mais no XC Rio estava estampada na cara de quase todos.
Dinos, Danoninhos e Dentes de Leite planejando a fuga em massa de São Conrado.
Táticas e técnicas que estavam na cabeça de cada um apareciam nas faces dos degladiadores do dia.
Partimos.......
Um batalhão desesperado para chegar no Cristo.
No rotor, um canhão redondo que já levava a mais de 1.000m.
Alguns foram para o Croc, contorna-lo, e a maioria já partiu direto por dentro do alto da boa vista para o queimadinho, tamanha era a certeza da boa condição.
Chegamos nas antenas e boom outro pontapé para cima.
- Ainda não esta redondo, vamos mais para frente;
Na torre de alta tensão antes da última cruzada para o Cristo outro pontapé prá lua;
- Vamos, vamos, na frente tá melhor;
E o Sadia que estava puxando o trem chegou no Cristo e catapum, subiu que nem foguete.
- Pica, anda, sai do buraco que a de lá é a melhor do pedaço !!!
E era, um canhão redondo que levava a mais de 1.200m e permitia curtir o visual do Rio de Janeiro inteiro.
Olhava prá trás e lá vinha uma fila de ferozes caças ninja na direção da termal que pegamos.
Cada um que chegava, engatava e estampava.
Prá galera que estava no Corcovado deveriamos parecer um bando de mosquitinhos infernizando a vida do Senhor de Braços Abertos.
- E agora ?
Bom, a tática inicial de todos estava cumprida.
Ir ao Cristo antes da tirada para acumular uns pontos e esperar a condição arredondar.
Ainda não era hora de partir para o Cross, tinha que esperar a condição formar no caminho.
Voltei para as antenas e vamos cozinhar o galo um pouco para ver qual o melhor caminho para o pico.
E qual não foi a minha surpresa quando a galera continuou sem parar e zoom voltaram para a concha de São Conrado e alguns já jogaram para o pico do Papagaio e partiram.
- Xiiiii....
- Acho que fiquei prá trás !
- Mas, tá muito cedo !
A tirada direto das antenas para o Pico da Tijuca está com uma descendente só e chegar lá baixo é um tiro no escuro.
Teto de 1.200m é bom para o vôo local mas para tirar ainda é baixo.
Vamos voltar para aquela térmica do rotor e corujar como está a condição lá no Pico do Papagaio.
Engatado na núvem em cima do Croc fui derivando para o Alto da Boa Vista e vendo alguns ralando na cordilheira do Pico e outros já indo embora.
- Este teto tá baixo !
- Com 1.200m não dá para cruzar para a Pedra Branca e engatar na condição de lá.
- Tenho que arrumar outra saída.
Tô chegando na região do Pico e encontro o Carlos Augusto e o Giovanni batalhando por lá.
Procura, cata, e acha o miolo que estava bem no meio da Floresta da Tijuca.
E lá vamos nós, núvem.
- Agora é nossa vez de tirarmos !
- Nada de proa Jacarepaguá que vai pousar lá pelo Rio 2.
Então, proa Campo dos Afonsos, ciscando na região do pedágio da Linha Amarela que o vento de Nordeste mostrava uma formação por lá.
Olho para trás e arrumei um fiel escudeiro.
Giovanni partiu na minha cola.
- Beleza, em dupla é melhor para ciscar e tem o conforto da companhia em vôo.
Dito e feito, chegamos perto do pedágio e boom....., um canhão forte e redondo nos leva de volta à núvem.
Emburacados miramos o Campo dos Afonsos e o pouso por lá ou pelo outro lado da Av.Brasil, no campo de polo, já estava mais do que garantido.
Seguimos e só cidade em baixo .............. e nada de achar a seguinte.
Passamos por Bangú e nada.
- Acho que vamos merrecar por aqui, pensei.
Meu escudeiro vai mais para cima da cidade e eu mais para o gericinó.
Ele achou os pipocos de uma salvadora.
Juntamos e a térmica falhada corria de Nordeste.
Era derivar com ela ou procurar pouso.
Meu amigo não teve a paciência necessária, correu mais para a frente e garantiu o pouso no Aeroclube de Bangú.
Minha insistência me levou a engatar redondo em cima do pouso dele e pegar a condição da Serra do Vulcão por trás.
Segui subindo e derivando até quase o Pico do Marapicu.
Emburacado de novo, partir para dentro da região do vôo de N.Iguaçú.
Tomando como proa Japeri, onde as formações no caminho me mostravam vários cúmulus.
Ir para Seropédica também teria sido uma boa Opção.
Ali o vôo é tranquilo.
Grande pastos, áreas planas e térmicas redondas apesar de intensidade fraca e teimando em permacer em torno dos 1.200 a 1.300m o que é muito baixo para a região.
Mas, relaxei e procurei curtir o vôo e chegar na próxima, que estava perto da Via Dutra, depois de Queimados.
Engatei, subindo, falhado e decidi seguir para a próxima.
Boa decisão engatei melhor e núvem de novo.
Japeri cresceu na minha frente e parecia a melhor direção.
Passei pela cidade e corri para a região da rampa de lá.
Cheguei estava fraco e a minha altura era de quem tinha acabado de decolar e ganhado um pouco.
- É...., pensei, estou decolando de Japeri para fazer um vôo.
- São 13:00h e o meu vôo está começando agora.
- Vamos ficar na pedreira e esperar a condição chegar aqui.
Esperei a núvem chegar perto e engatei no canhão.
1.400m !
E agora a decisão: volto para N.Iguaçú que o caminho está bom ou tento seguir para o meio do nada nas montanhas ?
- Teto baixo....... e você já voou ali........ a região é só de morrinhos, florestas, rotor e cruel de pousos..............
- Volta que o vôo vai ser mais visual e mais tranquilo.
- Que nada, vamos lá que a formação tá bonita.
Engatado no teto passo de Japeri para Paracambi e parto na direção entre Barra do Piraí e Valença.
A coceira do Cross fala mais alto que a sensatez.
A faixa de vôo encolhe, o teto de 1.300 a 1.400m e o piso sobe pelo menos 600m, com morrinhos a 800m.
Sobram poucos metros para as tiradas.
Não podem ser longas, tenho que partir direto para a mais perto e engatar senão é chão.
Chapar no meio dos morrinhos do planalto de Paulo de Frontim não é nada agradável.
Com as pernas tremendo chego na próxima já naquela de olhar o melhor morrinho para chapar.
Mas, ufa, sinto a térmica cisalhada pipocar e engato derivando para sair da primeira roubada.
- Pronto a pior parte já passou.....
Olho para frente e que nada, teto baixo e mais morrinhos mas, pelo menos tem formações ao alcançe.
Cruzo para a serrinha e engato na condição de novo.
Agora outra decisão crucial.
O vento está acompanhando um pouco o relevo mais para Sudeste em baixo e mais Nordeste em cima.
Sigo no Nordeste ?
Acho que não, a possibilidade de alcançar a próxima se mudar a rota uns 45º vai melhorar.
- É isso aí, tem umas formações lá na frente, depois do rio.
- E dá prá chegar lá.
Sai da linha de sustentação e para a cruzada só pego pequenos rotores e vento de través.
Cruzo o rio, chego no que parecia bom e a formação já tinha passado.
Corro a pequena cordilheira, olho para os pastos lá no final e ....
- Vamos é esticar o L/D para chegar no pasto perto da estrada.
Pri...Pri....
Sobe, desce, abre o cinto....
Calcula a aproximação para o pasto mais próximo.
- Mas, vamos insistir.
- Se não ganhar pouso aqui mesmo.
- Ando mais mas, vale a pena tentar.
- A falhada tá forte.
E, tchan, tchan, tchan....
Nasce o caroço.....
- Agora não largo ela mais mais.
- Fecha o cinto....
Derivo para dentro das montanhas mas subo com tudo...
- ÔOoooooba !!!
- Tô voltando pró vôo.
- E daqui prá frente tá formando um cloud street.
- Capricha, arredonda.
- Paciência, espera chegar na núvem.
- Que nada, ele tá logo ali no próximo contra-forte.
- Tirei....
- IIIIIIiiiiiii, acho que devia ter ficado mais, vou chegar lá no limite.
- Cheguei.
- Nãooooooo, ela não tá aqui.
- Tá lá no fundo daquele vale, sem pouso, só chapadas.
Na batida do vôo, de sangue quente, sigo em frente.
Chego no fundo do vale no limite da altura.
Não dá prá pular o morro.
Cisco e nada.
Porrada prá cá, porrada prá lá e .....
- Porra, seu babaca, você tá no pé do cloud street e jogou o vôo fora....
- Caral...o, endureceu e despencou da falhada.
- Qual o menos pior morrinho da rotorzeira deste valezinho estreito e safado ?
Tome porrada.....
- Contorna a pedra da direita, volta e pica para chapar de volta naquele meio pasto, pensei....
Fui e priii..iiiii...iiiii
-Voltaaaaaaaaa.
Priiii.iiiii..iiiii
- Enroscaaaaaaa..
- Força nos braços seus babaca.
- Beleza, engatei forte.
- Não relaxa não.....
- ah.ahah.ah..ah.aa.a.a....., lá vou eu de novo.
Começo a ganhar a serra e atrás do morro aparece a cidade de Valença.
- Ufa!!!!
- Aprendeu seu trouxa!
- A térmica tá boa mas o teto tá baixo.
- Tem que ganhar bem e tirar para a mais próxima com certeza de chegar.
- Ok, ok, ok....
- Relaxa, tô ganhadão e olha o cloud street na frente.
- Vamos lá que agora é só alegria.
Aí o vôo virou alegria um cloud que me fez andar bem, passar por Rio das Flores e continuar navegando pela pequena cordilheira abaixo.
Chego no final e parto para a esquerda para novas montanhas ou vou naquela lá na frente na curva do rio com a montanha do meio.
Vamos lá naquela que tem um pasto enorrrrrrmmeeee na beira do rio e um povoado do lado.
- Beleza, que visual ....
- Tô no meio do mundo, sozinho e estampadão no céu...........
Vou seguindo tranquilo, tranquilo e chego na formação na média altura e o vario começa a cantar de novo.
Arredondo.
Térmica suave e ...
- Rapaz agora que saí da roubada e que aparecem estes urubús para azarar a minha térmica.
- Sai daí neguinho.......
- É, tá bonito mas tá acabando.
- Olha o buraco azul prá frente.
- A próxima formação tá lá prá Juiz de Fora.
- Não dá prá chegar.
- Só se engatar naqueles pedrocos no meio do caminho.
- É, mas eles já estão esfarelados.
- Mas é o caminho mais seguro para este final de vôo.
- IIIIiiiii, não vai dar prá chegar encima deles.
- Vamos entrar pelo vale a dentro, ciscar lá e voltar para aqueles maravilhosos pastos lá no fundo...
No meio do vale aquela de final de tarde, fraca, suave e que também não rende muito.
Ganho o suficiente para olhar para o outro lado e penso vamos esticar por cima na direção daquela cidadezinha (Belmiro Braga).
Outra decisão meio tola.
Chego na montanha no limite.
Cruzo e caio no rotor.
Cruzo rente por umas florestinhas e quando de repente atrás do morro aparece, imaginem, um imenso campo de polo, isto mesmo, polo, todo plano com a grama recém aparada.
- Chega, é aqui mesmo.
Aproximo.
Entro picado e como ele estava no rotor, catabummm
Um sonoro chrash para encerrar a aventura.
O gerente da fazenda e dois ajudantes estavam ali e incrédulos não sabiam o que dizer ainda mais quando disse que vinha de São Conrado !
Fazenda Paraíso !
Para surpresa minha, de Armando Klabin, tio do nosso saudoso amigo Maurício Klabin.
Desmonto a asa e vamos prá cidade esperar o resgate que chega às 22:00h.
Antes ligo para os amigos e o alvoroço na praia e na internet vocês já sabem.
Brigaduuuuuu......
Geraldo Nobre
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