quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

ARTIGO: Voando no Sertão, parte 2



O amigo e piloto Glauco Cavalcanti esteve no XCeará 2009 comigo e segue abaixo o segundo artigo escrito por ele, sobre as experiências e mitos do vôo no Sertão Cearense.

Desvendando os Mistérios de Quixadá – Parte II

Myth Buster – Caçador de Mito

Por: Glauco Cavalcanti

www.megafly.blogspot.com


PARTE 2 – Ventos Fortes


Quando pensamos em Quixadá a primeira coisa que vem a mente são os ventos fortes. Ventos devastadores que empurram as asas a velocidades incríveis e que fazem do pouso um verdadeiro pesadelo. Alguns pilotos na tentativa de comparar o vôo ao surf dizem que Valadares é Pepeline, Brasília é Waimea e Quixadá é Teahupoo. Mas aí você me pergunta: “até que ponto isso é verdade?”

No Brasil, a região Nordeste, em especial o Ceará, possui um dos melhores potenciais eólicos do planeta segundo a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Isto é cientificamente provado e os praticantes de windsurf e kitesurf sabem disso. De fato os ventos de Quixadá são fortes. Os ventos ultrapassam 50km/h em alguns dias e neste ano presenciei rajadas de 60km/h na rampa. O Erick Vils reportou estas rajadas em voo. No ultimo dia que voei cheguei a colocar 134 km/h ground speed (velocidade em relação ao solo). No passado a máxima velocidade que eu havia colocado foi 113km/h em Brasília com vento caudal de 30km/h. Mas quando você está voando com vento acima de 50km/h, velocidades impensáveis podem aparecer no seu Compeo.

O vento neste sentido não pode ser visto como nosso vilão, e sim, como nosso aliado na conquista de vôos de longa distancia. Voar acima de 200km depende de vento e térmica. Poucos são os lugares onde conseguimos voar longas distancias sem vento. Valadares e Andradas são alguns destes locais que apresentam excelente atividade térmica e conseguimos voar com pouco vento. No entanto voar acima de 300km sem vento é algo impensável. Nossas asas não possuem motor, sendo assim, o vento é o melhor combustível para alimentar estas maquinas dos sonhos.

Já vimos no artigo anterior que vento forte não é empecilho para decolagem. Sabemos que o vento nos auxilia na conquista de longas distancias e isso é unânime. Por fim fica a preocupação com o pouso.

Pousar com vento forte é infinitamente mais fácil do que pousar sem vento. Quando você coloca no contra vento a asa simplesmente pára e você desce como um paraquedas. Pode regular a velocidade na marcha, caçando um, dois ou até mesmo três quartos em ventos de 60km/h, como aconteceu com o Erick este ano. Esta experiência vivida pelo Erick comprova que mesmo com ventos fortes temos controle da asa, ou seja, ela voa para frente. Diferente dos parapentes que andam de ré quando os ventos ultrapassam 50km/h. Portanto a sua maior preocupação a baixa altura é escolher um pouso que seja livre de rotor.

Quando o vento ultrapassa 40km/h você tem que entender que uma arvore, poste ou qualquer obstáculo a sua frente gera rotor. Por isso escolha um pouso livre de obstáculos. Não precisa ser grande, um campinho de futebol é mais do que suficiente para pousar/paraquedar. Também deve evitar curvas a baixa altura. Nunca se afaste do pouso que escolheu. Se derivar muito no vento caudal, quando colocar no contra vento não vai andar e as juremas estão de braços abertos para te espetar.

Sei que aos poucos você está se acalmando e já pesquisou sua agenda para 2010. Infelizmente tenho que comentar um agravante do pouso com vento forte. Lembre-se que o objetivo deste artigo é tentar ser o mais honesto possível com você leitor. Sem inventar ou fantasiar. Por isso tenho a obrigação de informar. Pousar cedo em Quixadá com elevada atividade térmica requer muita concentração.

O dinamismo do local devido aos fortes ventos produz ciclos térmicos a todo instante. Pousar próximo ao meio dia é uma loteria. Você pode pegar um bom momento e pousar sem maiores dificuldades, pode tomar porrada até o pouso, tomar uma tendida no estol final ou tomar uma descendente. Todos estes pousos que retratei foram vivenciados nesta temporada 2009 que apresentou ventos mais fortes do que a temporada 2008 (pelo menos na semana do XCeará). Mas não é nada de outro mundo. Nas ultimas duas temporadas que estive em Quixadá não houve acidente grave de asa no pouso. Todas as situações de pouso são gerenciáveis para pilotos experientes.

E o melhor de tudo. Quando voamos longas distancias saímos do Estado do Ceará e seguimos em direção ao Piauí, logo o vento tende a diminuir. No Piauí os ventos são fracos e em Teresina quase não venta. Quando pousamos ao final do dia o pouso é liso, com uma brisa leve e gostosa. A atividade térmica está chegando ao fim e as vezes que voei acima de 200km sempre fiz pousos muito tranqüilos. O mesmo relato foi passado pelos outros pilotos que se afastaram de Quixadá em direção a Teresina. Quanto mais você voar mais fácil será o pouso no que se refere a vento. Por isso não pouse. O piloto Fabio Nunes diz que voa longas distâncias no Nordeste porque tem medo de pousar cedo. Não é a toa que nós o chamamos de “Sábio” Nunes.

MITO: VENTO EM QUIXADÁ É TERROR E PÂNICO.


ESTE MITO É FALSO.



Bons vôos seguros a todos.

Glauco Cavalcanti


Ler o artigo PARTE 1


Ler o artigo PARTE 3

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